sábado, 22 de março de 2008

Namoro Virtual

P: Adoro ficar nas minhas “paquerinhas” virtuais. Só que eu tenho um namorado bem real. Já li sobre vários casos – até separação! – por causa disto. Será que tem algum risco? Laís, São Bento
R: O mundo virtual toca no real, afinal de contas, por trás da máquina existe um ser de carne e osso. Mas o que diferencia os dois? Vou destacar alguns pontos. O primeiro, é que no mundo virtual, com um toque de mouse, dá para o mudar o cenário, as gentes, ou até mesmo desligar tudo. Já o mundo real não tem controle remoto (até que seria bom!).

Fantasia perfeita
Outro ponto importante é que o mundo virtual pode ser um mundo de sonhos. A perfeição até existe. É o mundo de sonhos da propaganda: as mulheres acordam sem remela no olho; o olho nunca está inchado! Ninguém tem bafo, nem chulé. O café da manhã… Deus meu! Nunca vi o leite derramar. As crianças aprontam-se rapidinho para a escolha, sem choro nem vela. E nos bares, então? O garçom está sempre bem humorado e atende ao primeiro sinal, trazendo o chope estupidamente gelado. De tanto ver estas imagens (a repetição faz parte dos princípios da propaganda, princípio este estabelecido por, quem diria, Hitler!), a gente acaba acreditando nelas. E o mundo da Internet criou um espaço perfeito para reforçar tais imagens.

Erros de leitura
O problema é que as mensagens transitam livremente entre os dois mundos e levam a interpretações diferentes, provocando toda a confusão. Tive um cliente -acho que a empresa existe até hoje: na época, fabricava discos, os bolachões, longplays (será que se transformaram em cds?) e, na primeira reunião, do alto dos meus 23 aninhos esplêndidos, comecei a defender a criação. Só que o fulano não parava de piscar para mim! Eu, totalmente sem jeito. O que fazer? Será que este desinfeliz estava me cantando? Ai, ai, ai. Saia justa total. Eu continuei, firme, fingindo que nada acontecia (cadê aquele controle remoto que eu falei lá em cima, para mudar o canal do mundo?). Como não dava para deletar o cliente, fazer o quê? Olhava pros lados, concentrava nas peças. Finalmente acabou. Ao chegar na agência, o pessoal comentou: -Dá até nervoso este cliente, não é? Ele não para de piscar!
Pois então: era um cacoete. Nada comigo não. Ufa! Já pensou se eu tivesse saído brigando por causa deste assédio que não era assédio?

Cada coisa em seu lugar
Por isso, nunca é demais lembrar: nem sempre o que se vê é o que parece ser. No caso das “paqueras virtuais”, as duas – ou três partes – precisam definir o quê significa o quê. Também não custa lembrar que fantasia é apenas fantasia, na Internet ou na propaganda. Ela pode fazer muito bem para a saúde, como válvula de escape para as tensões diárias. Mas também pode gerar mais frustração, quando se impõem como única maneira para as pessoas se sentirem felizes e desejadas.

A estratégia
1. Uma relação está em constante construção: defina quais os tijolos que são fundamentais e quais são os elementos decorativos.
2. Deixe isto claro antes de fazer qualquer “reforma” e confira se a outra parte concorda!
3. O que para você é virtual, para o outro pode ser real. Não misture os canais.
4. Investigue o valor e o tempo que você está dedicando para cada um destes mundos. O que gera satisfação ou insatisfação? E até que ponto isto não é uma imposição da Geração Prozac, que recusa qualquer tipo de tristeza, por pressão da indústria e da propaganda? Pense nisto.

domingo, 16 de março de 2008

Um tempo

P: Meu namorado me pediu um tempo. Mas quanto tempo é “um tempo”? O que significa isto, afinal? Continuamos namorando ou não? Isabel, Londrina.
R.: Um tempo pode ser muito tempo. A maioria das vezes, é uma eternidade. E não é só namorado que pede um tempo: tem noivo, marido, companheiro que vem sempre com esta conversa.

Medo com nome e sobrenome
No fundo, e as exceções estão aí para confirmar a regra, “um tempo” significa pura e simplesmente: -Cansei de você, quero borboletear por aí, mas sem nenhum sentimento de culpa. Mas quero ter certeza que você continua à mão e prontinha para me abraçar, caso eu deseje voltar!
Nas agências de propaganda acontece algo parecido. É o cliente que acena com um ótimo negócio ali na frente mas, enquanto isto, vai esfolando a sua pele. E você ali, esperando dias melhores. Pode esperar: vai nadar, nadar, e morrer na praia. E a empresa que fica “cozinhando” os anúncios que a gente cria, pede opções para várias agências, faz concorrências mil e depois não decide nada?

NIM
É o povo do nim: nem não, nem sim. O grande problema, é que somos coniventes com tudo isto. Acreditamos que, no frigir dos ovos, iremos acabar ganhando. Os ovos queimam e ganhamos é nada. E por quê? Ingenuidade? Auto-suficiência? De tudo um pouco. Tenho um amigo, israelense, que se mudou para o Brasil, casado com uma curitibana. Lá foi procurar emprego. Depois de um mês, encontrei-o. Perguntei: - E aí? Alguma novidade? Ele, cheio de entusiasmo e com sotaque carregado: -Sim! Fiz uma entrevista, fui super bem, me elogiaram muito. Pediram para eu esperar um tempo, que logo iriam me ligar.
Coitado! Precisei urgente dar um curso intensivo sobre o “dá um tempo brasileiro”. Ele não conseguia acreditar: -Quer dizer que dizem que vão ligar e não ligam? Mas em Israel, se você não é aceito, a resposta é na hora!
Ah, mas é que brasileiro é tão bonzinho… Não quer magoar ninguém. Tem medo de tomar decisões e se arrepender -e gosta sempre de deixar um reserva na mão, certo? Nas relações afetivas é o mesmo cenário. Como acho que não devem ficar sentadas até a bunda assar, o melhor mesmo é tomar algumas providências. Para isso, é preciso estar preparado e ter coragem de ouvir alguns nãos e deixar as portas se fecharem. Melhor portas fechadas do que calendário amarelado!

A Estratégia
1. Defina um prazo. Pode ser de comum acordo, mas defina uma data para o retorno.
2. Leia nas entrelinhas do “dar um tempo”. Fale claramente para evitar ruídos de comunicação e investigue se o significado é o mesmo para os dois lados.
3. O que pode ser feito neste “tempo” vale para ambas as partes? Por exemplo: se o cliente está fazendo concorrência entre agências, quer dizer que você também pode prospectar empresas concorrentes? Geralmente o cliente não quer saber disto: são dois pesos e duas medidas. Nas relações, também não. Quem pede “um tempo”, quer um tempo só para si – e que o outro fique a ver navios!
4. Viva o presente –pois o futuro é incerto e nunca chega.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Puxando o tapete

P.: Adoro meu trabalho. Só tem um probleminha: é uma puxação de tapete! Se não cuidar, vai direto para o chão… Quando menos se espera, lá vem facada pelas costas. Tem algum jeito de lidar com isto?, Dorothy, Canoas.
R.: A puxação de tapete, praga que assola 10 entre 10 empresas, ataca em todos os departamentos e funções. É aquele fulaninho “muy amigo”, mas que fala horrores de você ou simplesmente “rouba” suas idéias. Tem gente com tanto medo disto, que acaba imobilizado.

Super secreto
O senhor D. (vou omitir o nome) procurou ajuda da CBL – Câmara Brasileira do Livro. Ninguém queria publicar sua obra. Depois de muito insistir, meu pai, advogado, resolveu atendê-lo. Conforme dizia D., seu livro denunciava uma conspiração global, desvendava um segredo tão secreto, que colocava em risco o país, o planeta. Uma bomba. Sucesso garantido. Meu pai, então, propôs: -Você deixa os originais, que vou procurar uma editora. E ele retrucou: -O queeeee? Os originais são secretos, não posso deixar com ninguém!
Pois é, já tive clientes que omitiam informações, algumas fundamentais para se desenvolver uma propaganda adequada. Uma trabalheira descobrir os dados!

Concorrência desleal

É claro que na selvageria do mercado existe uma concorrência feroz, tanto nas estratégias de marketing quanta de propaganda. Por fora, tudo sorrisos. Mas na hora de conquistar um cliente, é um vale-tudo! A propaganda destaca os pontos fortes do produto ou serviço, insistindo que as outras empresa não têm aquilo, ou tem pior. E também tem a guerra de preços. Da mesma forma, quando um produto, serviço ou propaganda é bem sucedido, logo surge a concorrência para atacar, falar mal ou copiar aquilo que deu certo, mudando uma coisica qualquer. Fora os “olheiros” de plantão, investigando preços e estratégias como se fossem simples consumidores – verdadeiros dedos-duros, que orientam os contra-ataques aniquiladores.

Tem pior
Pior é quando as empresas se juntam e tentam liquidar com um concorrente que está aparecendo demais. Podem fazer guerra de preço, comprar o concorrente, estrangular a distribuição ou impedir que as matérias-primas cheguem. Isto ocorre entre as pessoas: grupinhos que se unem para acabar com a vida de alguém. Equivalentes no ambiente de trabalho: “esquecer” de avisar de uma reunião ou de uma chamada telefônica, colocar na boca do outro palavras que não foram ditas, atrasar a entrega de dados e informações e daí para frente. Faça você a sua lista.

Sobrevivendo
As empresas não dormem no ponto. Quando fazem algo bem feito, alardeiam aos quatro cantos. Alguém vai copiar? Tudo bem. Agora, o mundo já sabe de quem foi a idéia. Vira propaganda positiva. Isso é tão comum, que já é praxe no mercado. Chama-se benchmark ou benchmarket, são as melhores práticas, que merecem até prêmio. Tem mais. Fazem do inimigo, um amigo. Ou o que você pensa que são as associações de classe? Escolhem os pontos em comum e trabalham juntas por ele. Utilizam também táticas de guerrilha: ações inesperadas, que surpreendem a concorrência e o mercado, deixando os outros imobilizados. Por exemplo: antecipar uma campanha de propaganda, ou usar um merchandising criativo. As táticas de guerrilha estão na moda – vamos voltar ao assunto com alguns exemplos práticos. Enquanto isto, coloque sua imaginação em campo e prepare seu plano anti-puxação de tapete.

A Estratégia
1. Junte-se ao inimigo. Descubra pontos em comum para formar aliados: melhores salários, flexibilidade de horários, maior sociabilização e daí para frente.
2. Surpreenda. Entregue o relatório antes da data, consiga uma informação inovadora. Seja pró-ativo, enfim!
3. Invista na blindagem da sua imagem. Muita gente falando bem de você mina qualquer terrorista. Para isso, insista na sua rede de relacionamento. O benchmark prega em alto e bom som: aproveite as datas comemorativas (aniversários, fim-de-ano, etc.) para marcar presença. Lembre-se de elogiar os sucessos dos colegas, dos chefes e dos que estão abaixo de você.

sábado, 8 de março de 2008

Multipla jornada - Dia Internacional da Mulher

P.: Alguém poderia, por favor, me explicar por que eu preciso trabalhar tanto? Tenho que dar conta de casa, do trabalho, da família, e ainda sair bela e faceira por aí. Para dizer a verdade, não aguento mais! Soraya, Taubate.
R.: Um dia, alguém me disse: com a tecnologia, teremos mais tempo livre. Eu acreditei! Era mentira. Hoje, trabalhamos muito mais, porque com as tecnologias da comunicação, o trabalho nos persegue em casa, no lazer, nas ferias. Tem mais: quem tem trabalho intellectual, não descança nem dormindo. Ou alguém já ouviu falar de uma pessoa que deixa de pensar enquanto dorme? Estima-se que, hoje, se dorme uma hora a menos por noite do que há 150 anos. Ajudou pra isto, é claro, a invenção da eletricidade.
Do lar
Mesmo assim, com máquina de lavar louça, roupa, secar, passar e aspirar, a responsabilidade ccontinua da mulher. Que me desculpem os homens participativos. É comum ouvir –“Meu marido ajuda em casa!”. Isso só prova que o principal é realizado pela mulher. Nunca ouvi nenhum homem dizer: -“Minha mulher me ajuda em casa!”.

O cafezinho
É tão forte este estereótipo de que a mulher precisa “servir” que, em muitos casos, nem se percebe. Em uma das agências na qual trabalhei (eu era a única mulher do grupo, pois, acreditem, naquele tempo mulher em cargo de direção era coisa rara), sempre que tinha reunião o meu chefe dizia: -Ethel, dá para pegar um cafezinho prá gente? Na primeirea vez eu fui. Na segunda também. Na terceira, comecei a me irritar. Na quarta, fiquei indignada. Antes que acontecesse a quinta vez, na primeira oportunidade, antes de dar tempo para ele pedir, eu mesma disse: -Fulano, dá para pegar um cafezinho para a gente?

Listando valores
Para construir esta imagem da mulher super poderosa – super mãe, super amiga, super profissional, super dona de casa e super amante (sim, depois de tudo, ainda é preciso ter não sei quantos orgasmos múltiplos!) – a indústria reforça estes valores. Como? Com propaganda, claro. Grupos de discussão, pesquisa, analyses psicológicas, observação de tendencies são algumas das ferramentas empregadas para descobrir os pontos críticos que vão “balançar” o consumidor. É bom notar que muitos valores são contraditórios. Tem que ser romântica e dependente, mas agressiva e independente; apaixonada e impulsive, mas racional e comedida. E por aí vai – mas sempre potencialmente submissa aos desejos do homem. Haja esquizofrenia!
Confira, em baixo, algumas propagandas de antigamente e outras atuais. O que mudou?










A
estratégia
1. Imperfeição faz parte da vida. Perfeição ideal é só isso mesmo: um ideal.

2. Não caia no conto da propaganda e defina suas prioridades. O resto, deixe para lá.

3. Aprenda a dizer não. Já falei sobre isto em outro posto, com algumas dicas. Dê uma espiada.

E aqui vai o selo que iniciou tudo isto, e que esta no blog da Lys e da Meire. Lá você encontra os links para todos que participaram desta blogagem coletiva do dia 8 de março.



terça-feira, 4 de março de 2008

Encontro inesquecivel

P.: Nos primeiros encontros, nunca sei como me comportar para ser inesquecível. O que eu faço, para não espantar o dito cujo? Às vezes, tenho ataque de risos, de nervoso! Mexo com as mãos, derrubo tudo… É para beijar? Transar? Pagar metade da conta? O que se fala? Laura, Portobelo
R.: O primeiro contato é sempre complicado. Queremos conquistar e ser conquistados, queremos deixar a concorrência comendo poeira e dizer para a torcida do contra, sempre de plantão: -Olha só! Consegui!
Mas como?

Diálogo de surdos mudos
As revistas femininas dão um conselho: não fale nada! Escute, porque as pessoas gostam de falar de si mesma… Então, deixe ele falar sobre suas conquistas. Você fica conhecendo o dito cujo e ele vai achar você o máximo.
Engraçado. As revistas MASCULINAS dão exatamente o mesmo conselho: não fale nada, deixe ela falar de si mesma, mulheres adoram falar de si. Ela vai achar o máximo, e você ficará conhecendo a fulana melhor…
Já imagino a cena, se a dupla seguir o conselho: um olhando para a cara do outro, mudos: -Fale de você… -Não, não, estou aqui para escutar você!

Segundo Ato
Se as empresas seguissem estes conselhos, jamais conquistariam algum cliente! Imagina eu, consultora, dizer para o gerente de marketing: fique ali, quietinho, esperando que o freguês venha procurá-lo para falar sobre si mesmo. Tava mortinha da silva. Vamos, então, pular este primeiro ato e partir direto para o segundo. O que se deseja, é um epílogo feliz, certo? Para isso, é importante descobrir, por vias indiretas e antes do primeiro contato, o perfil deste ser em potencial (que chamamos prospect). Como? Pesquisando. Santo oráculo Google! Comunidades, currículos, amigos… A pessoa é totalmente desconectada? Tudo bem. Amigos, família, o bairro onde mora. O estilo de roupa. A idade – sim, embora em uma mesma geração existam muitos grupos diferentes, um certo parâmetro cultural serve como referência. Tudo isto são pistas para a personalidade – basta saber ler tais indicadores. Encontro às cegas? Aprimore mais ainda a leitura imediata de sinais – e tente não projetar o que deseja no outro. Dá para acreditar que tem empresa que diz que o público é que está errado? Pois tem. Não caia nessa.

Em campo!
Depois de fazer a “lição de casa” é hora de se expor um pouco. Vale, de novo, o que se faz em marketing: eu tenho que mostrar o produto ou serviço, criando pontos de contato com o perfil do meu público, para despertar seu interesse. Não é questão de mentir, mas de colocar em destaque algo que servirá para criar um fluxo de comunicação. Música, esportes, livros, cinema, atualidades: é por aí que se vai caminhando em direção ao coração. Simples? Nem tanto. Se fosse, ninguém ficava perdido nos primeiros encontros, nem haveria lojas às moscas.

Gostinho de quero mais
Outro truquezinho é deixar um uma isca para o retorno. Tem gente que quando você pergunta: -Como vai?, responde desfiando a vida inteira! Os noveleiros de plantão conhecem bem a técnica para criar expectativa. As promoções de milhagem e pontos também funcionam assim. Para ganhar mais, você retorna e retorna e retorna novamente. Então, são aquelas frases soltas ao acaso: -Ah, tal disco? Ou, - Tal livro? Um tempero exótico – enfim, algo que se promete trazer no próximo encontro.

Resta controlar a ansiedade, e não ficar parada ao lado do telefone, horas infindáveis esperando que ele toque. Mas isto já é uma outra questão!

A Estratégia
1. Descubra o que puder sobre a pessoa. Não é invadir o espaço privado: é mostrar interesse!
2. Respeite a individualidade de cada um, sem projetar sua própria personalidade.
3. Exponha-se para criar pontes de ligação.
4. Evite querer falar tudo e mostrar tudo de uma vez só. Dê tempo ao tempo.